Páscoa e Espiritismo


O período festivo cristão dito Semana Santa surgiu entre os séculos III e IV e chamava-se, em latim, Hebdomas Sancta (Semana Maior). Dentre as práticas recomendadas pelos eclesiásticos aos fiéis, havia a abstenção ao consumo de carne.

Como podemos ver, a Semana Santa é um costume originado no início da Idade Média, época em que o cristianismo foi institucionalizado pelo decadente Império Romano; não existia nos primeiros 150 anos após a crucificação de Jesus Cristo.

Quando realmente ocorreu a semana dita "santa"

Graças às comunicações com os Espíritos amigos, temos o conhecimento do ano exato em que Jesus foi crucificado. O Espírito Emmanuel, através da psicografia do médium mineiro Francisco Cândido Xavier, em Há dois mil anos (1ª ed. 1939), no cap. VIII (no grande dia do Calvário), informou que a Crucificação aconteceu antes da Páscoa do ano 33.



A verdadeira idade de Jesus na Cruz

O número do citado ano nos leva a pensar que, com o passar do tempo, houve uma confusão na estipulação da idade terrena de Jesus ao ser crucificado. Segundo a tradição cristã, o Cristo teria falecido aos 33 anos.

O Espírito Humberto de Campos, também através da "pena mediúnica" de Chico Xavier, em Crônicas de Além-Túmulo (1ª ed. 1937), no cap. XV (a ordem do Mestre), relatou um diálogo, no Mundo Celestial, entre João, o Evangelista, e Jesus Cristo, no qual o apóstolo revelou que o Mestre nasceu no ano 749 do antigo calendário romano, ou seja, em 5 a.C.

Portanto, Jesus tinha 38 anos terrestres quando foi levado ao Calvário (cinco anos mais velho do que muitos imaginam).

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Os textos abaixo visam deixar claro as diferentes visões que a Doutrina Espírita (sob a codificação de Allan Kardec) possui sobre a Semana Santa, festa religiosa instaurada inicialmente pela Igreja Romana.

Para a Doutrina Espírita, não há a chamada "Semana Santa", nem tão pouco o "Sábado de aleluia" ou o "Domingo de Páscoa" (embora nossas crianças não consigam ficar sem o chocolate, pela forte influência da mídia no consumismo aproveitador da data) ou o "Senhor Morto". Trata-se de feriado e prática católica, e, portanto, não existem razões para a adesão de qualquer tipo a tais costumes. É incoerente com a prática espírita os votos de "Feliz Páscoa!“ (a não ser em sinal de respeito e carinho a algum irmão), a comemoração de Páscoa em centros espíritas, ou, mesmo alteração da programação nos centros, em virtude de tais feriados católicos. Porém, ainda persiste a preocupação de expositores ou articulistas em abordar a questão, por força da data... Não há porque fazer-se programas de rádio específicos sobre o assunto, palestras sobre o tema ou publicar artigos em jornais só porque estamos na referida data. É óbvio que ao longo do ano, vez por outra, abordaremos a questão para esclarecimento ou estudo, mas sem nos prender à pressão e força do feriado.


(...)
Inclusive temos o dever de não transmitir às novas gerações a violência da “Malhação do Judas”, prática destoante do perdão recomendado pelo Mestre; verdadeiro absurdo mantido por mera tradição, também incoerente com a prática espírita.


(...)
Esta abordagem está direcionada a quem segue a Doutrina. Se algum irmão católico nos ler, esperamos que compreenda o objetivo desta argumentação, a qual está voltada para os próprios espíritas. Não há oposições ou qualquer atitude de crítica às práticas que julgamos extremamente importantes no entendimento católico, e, para as quais direcionamos nossa compreensão.

Vemos com ternura a dedicação e a profunda fé católica que se mostram com toda sua força durante os feriados da chamada Semana Santa, e, é claro, nas demais atividades brasileiras que o Catolicismo desenvolve.

O objetivo da abordagem é direcionado aos espíritas que ainda guardam dúvidas sobre as três questões apresentadas no início do artigo. O Espiritismo encara a chamada Sexta-feira Santa como uma sexta-feira normal, como todas as outras, embora reconhecendo a importância dela para os católicos. Também indica que não há procedimento especial algum para os dias desses feriados. E não há porque preocupar-se com o Senhor Morto, pois que Jesus vive e trabalha em prol da Humanidade.

E aqui, transcrevemos trecho do capítulo VIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no subtítulo VERDADEIRA PUREZA, MÃOS NÃO LAVADAS (página 117 - 107ª edição IDE):



"O objetivo da religião é conduzir o homem a Deus; ora, o homem não chega a Deus senão quando está perfeito; portanto, toda religião que não torna o homem melhor, não atinge seu objetivo; (...) A crença na eficácia dos sinais exteriores é nula se não impede que se cometam homicídios, adultérios, espoliações, calúnias e de fazer mal ao próximo em que quer que seja. Ela faz supersticiosos, hipócritas e fanáticos, mas não faz homens de bem. Não basta, pois, ter as aparências da pureza, é preciso antes de tudo ter a pureza de coração."

 
Não pensem os leitores que extraímos o trecho pensando nas práticas católicas em questão. Não! Pensamos em nós mesmos, os espíritas, que tantas vezes nos perdemos em ilusões. Acreditamos cegamente na assistência dos espíritos benfeitores, mas agimos com hipocrisia, fanatismo, e, pasmem, superstição. Muitos de nós se esquecem dos objetivos da Doutrina Espírita, que são, em última análise, a melhora moral do homem.



(Trechos, com modificações, do artigo “Práticas Distantes”, de  Orson Peter Carrara, Publicado no Boletim GEAE - Grupo de Estudos Avançados Espíritas – n.º 390, de 02 de maio de 2000).

Não existe páscoa na doutrina espírita, a qual não mantém a prática de cultos, rituais ou adoração de imagens. A Páscoa é uma festa católica, culminância da chamada Semana Santa (que deve ser vista com apreço, pelos espíritas, em respeito aos nossos irmãos católicos e de outras religiões cristãs). Nesta data algumas religiões comemoram a morte e a ressurreição de Jesus. Na Doutrina, sabemos que a morte é conseqüência do processo reencarnatório, que não tem nenhuma conotação especial a não ser a volta para o mundo espiritual, e, portanto, não há necessidade de se relembrar sempre com tristeza a data.

Sepulcro vazio.

Jesus tinha uma missão quando reencarnou na Terra, e ao cumpri-la retornou a pátria espiritual, e, para isso, passou pelo processo desencarnatório chamado de morte (vide o cap. XV de “A Gênese”, de Allan Kardec). Quanto a Páscoa, ela é comemorada como a ressurreição de Jesus por algumas religiões, mas sabemos que isso é impossível. O corpo carnal uma vez morto, jamais retorna à vida. Desde que haja o desligamento do perispírito e consequentemente do espírito, a matéria se torna inerte e não mais adquire vida. Jesus apareceu a seus apóstolos após a sua morte em um fenômeno chamado materialização, onde seu perispírito se tornou visível para todos que estavam presentes.

(Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo, com modificações)

Madalena e Dois Anjos (Manhã da Ressurreição) (1622), de Guercino


A Páscoa, em verdade, pela interpretação das religiões e seitas tradicionais, acha-se envolta num preocupante e negativo contexto de culpa. Afinal, acredita-se que Jesus teria padecido em razão dos “nossos” pecados, numa alusão descabida de que todo o sofrimento de Jesus teria sido realizado para “nos salvar”, dos nossos próprios erros, ou dos erros cometidos por nossos ancestrais, em especial, os “bíblicos” Adão e Eva, no Paraíso.

Precisamos repensar a visão do "sacrifício" de Jesus como a remissão de nossas faltas, tirando a responsabilidade que cabe a cada um.

A presença do “cordeiro imolado”, que cumpre as profecias do Antigo Testamento, quanto à perseguição e violência contra o “filho de Deus”, está flagrantemente aposta em todas as igrejas, nos crucifixos e nos quadros que relatam – em cores vivas – as fases da via sacra. Esta tradição judaico-cristã da “culpa” é a grande diferença entre a Páscoa tradicional e a Páscoa espírita, se é que esta última existe. Em verdade, nós espíritas devemos reconhecer a data da Páscoa como a grande – e última lição – de Jesus, que vence as iniquidades  que retorna triunfante, que prossegue sua cátedra pedagógica, para asseverar que “permaneceria eternamente conosco”, na direção bussolar de nossos passos, doravante.

Ele Reviveu, de Del Parson


Nestes dias de festas materiais e/ou lembranças do sofrimento do Rabi, possamos nós encarar a Páscoa como o momento de transformação, a Vera evocação de liberdade, pois, uma vez despojado do envoltório corporal, pôde Jesus retornar ao Plano Espiritual para, de lá, continuar “coordenando” o processo depurativo de nosso orbe. Longe da remissão da celebração de uma festa pastoral ou agrícola, ou da libertação de um povo oprimido, ou da ressurreição de Jesus, possa ela ser encarada por nós, espíritas, como a vitória real da vida sobre a morte, pela certeza da imortalidade e da reencarnação, porque a vida, em essência, só pode ser conceituada como o amor, calcado nos grandes exemplos da própria existência de Jesus, de amor ao próximo e de valorização da própria vida.



Nesta Páscoa, assim, quando estiveres junto aos teus mais caros, lembra-te de reverenciar os belos exemplos de Jesus, que o imortalizam e que nos guiam para, um dia, também estarmos na condição experimentada por ele, qual seja a de “sermos deuses”, “fazendo brilhar a nossa luz”. Comemore, então, meu amigo, uma “outra” Páscoa. A sua Páscoa, a da sua transformação, rumo a uma vida plena.

(Trecho do artigo de Marcelo Henrique, Diretor de Política e Metodologias de Comunicação, da Abrade: Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo, e, Delegado da CEPA: Confederação Espírita Pan-Americana. Fonte: site Terra Espiritual)


6 comentários:

  1. Respostas
    1. O texto embora bem claro, expressa uma opinião um tanto equivocada. Não poderemos deixar de aceitar as datas ditas santas pois elas são a memoria vida dos grandes espíritos que passaram pela terra trazendo o grande manancial de luz.
      Nega a data e negar os ensinamentos deixados por Cristo Jesus, um ato de amor e sua morte não foi NATURAL, mas sob um grande suplício e injusta.
      Suportada com o brio de ser excelso para demonstrar o grande amor.
      Sim! sua morte não foi para nos salvar, mas para mostrar que o homem tem toda a autoridade para suportar e vencer a todas as injustiças e dificuldades do mundo sem pecar.

      PAZ EM CRISTO!

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    2. só esclarecendo o irmão anonimo
      as opiniões aqui deixadas não são apenas minhas, mas de pessoas mais preparadas e esclarecidas no Espiritismo do que eu. Peço para o irmão reler o texto e ler o outro "Reflexões sobre a Semana Santa" e verá que não negamos nada. Dizemos que a morte foi natural mais no sentido da naturalidade das circunstâncias daquela época extremamente violenta para quem discordava do "status quo", não algo defendido pela Igreja, como se Jesus fosse um cordeiro a ser sacrificado no templo judaico, se assim fosse seria suicídio. Jesus, lógico, como qualquer pessoa lúcida, provavelmente não queria morrer daquela forma, mas não houve jeito diante da conjuntura, jamais fugiria da sua missão apenas pra preservar a vida.
      Não negamos, discordamos certos pontos e respeitamos a opinião de todas as religiões (assim como pedimos respeito sobre nossas opiniões).
      espero termos esclarecido algo.
      Paz.

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  2. Queria que as pessoas percebesse isso Tudo

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  3. Jesus ja sabia que tudo isso aconteceria com ele aqui na terra, mas ele qiz ensiar o perdão, perdoou seus assasinos demosntrando o amor maior que tudo. E o perdão que temos q praticar. Obrigada Jesus, obrigada aos irmãos que esclareceram com esse texto!

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