JUNHO: JUSTIÇA SEJA FEITA A JOÃO & PEDRO

OS DEMAIS SANTOS JUNINOS


Imagens tradicionais de São Pedro, São João e Santo Antônio.

Com a filha de João
Antônio ia se casar
Mas Pedro fugiu com a noiva
Na hora de ir pro altar

A fogueira está queimando
E um balão está subindo
Antônio estava chorando
E Pedro estava fugindo 

E no fim dessa história
Ao apagar-se a fogueira
João consolava Antônio
Que caiu na bebedeira

("Pedro, Antonio e João", autoria de Benedito Lacerda e 
Osvaldo Santiago, 1939, na voz de Dalva de Oliveira). 


Essa lógica da despolitização de pessoas exemplares (ver http://jensoares.blogspot.com.br/p/antonio-de-padua-nunca-foi-santo-junino.html), que lutaram pacificamente contra as injustiças sociais no passado, também é empregada aos outros dois grandes homens, feitos santos pela Igreja, que fazem parte dos festejos de junho. Vamos conhecer quem foram essas figuras realmente.

SÃO JOÃO BATISTA, O "FOLGADOR"

O batismo é um rito de passagem, ou sacramento, do cristianismo herdeiro das abluções do judaísmo. Estas eram purificações realizadas normalmente em piscinas, cisternas ou tanques anexos aos templos e tabernáculos, onde os crentes deviam entrar "limpos". Os cristãos usam o rito do batismo para simbolizar a adesão ou conversão da pessoa à religião. No entanto, no início do século I, João apenas batizava pessoas - geralmente judeus adultos - que desejavam iniciar uma "vida nova" (deixar para trás faltas do passado para seguir um caminho reto) e não para convertê-las, oficialmente, ao cristianismo (surgido tempos depois).

Profeta judeu e primo terreno de Jesus Cristo, segundo o Novo Testamento.

Filho do sacerdote Zacarias e Isabel, prima da Virgem Maria, que era estéril; ambos também tinham idades avançadas. Ao duvidar da gravidez milagrosa anunciada por um anjo (episódio semelhante ao de Maria), Zacarias tornou-se mudo (castigado pela incredulidade) até o nascimento de João Batista (Lucas 1:5-64).

O Bastia simboliza a esterilidade tornando-se fecundidade e a mudez substituída pela exuberância profética: o prelúdio da Boa Nova cristã.

O homem a quem se atribui as Festas Juninas, que no início eram chamadas de festas joaninas, é o mais injustiçado com o apelido popular de "folião" ou "folgazão", já que a crendice popular afirma que gostava de beber e dançar nos festejos.

Logo ele, que trabalhou tão austero, "preparando a terra para a semeadura" do Cristo (o que não quer dizer que fosse uma pessoa carrancuda ou triste).

Cumpriu-se (e ainda se cumpre) a profecia de Malaquias (4:5-6), proferida 400 anos antes do nascimento de João Batista: “Elias retornou e seu povo não o reconheceu” (ratificou Jesus). 

Seu nome, em aramaico e hebraico, era Iocanã ou Iocanaan (Yoḥanan), que significa "Deus é gracioso". Após seu desencarne, recebeu nos Evangelhos o nome cristão de João (em grego, Iōánnēs, e em latim, Iohannes).


Imagem junina tradicional (folclórica) sobre São João Batista: um menino (referência às imagens clássicas dele ao lado do primo mais novo, Jesus ainda bebê) acompanhado de um cordeiro (referência às palavras dele sobre o Cristo: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo", João 1:29).

Parece que o Batista, como Jesus (do aramaico, Yēšûă‘), era nazareno ou nazareu, que, dentre outras características, deixava os cabelos compridos segundo o costume de Nazaré. Viveu ativamente no início do século I (c.6 a.C. - c.30 d.C.).

Após viver como eremita no deserto da Judeia  passou a pregar e anunciar a vinda do Messias às margens do rio Jordão, onde O batizou (eis a origem do segundo nome). Usou o batismo pela água - símbolo de renascimento espiritual - como a fórmula por ele eleita para atrair as multidões, preparando-as para melhor assimilar os ensinamentos que Jesus viria revelar.

Foi encarcerado pelo rei Herodes Antipas no castelo de Macheros, após condenar o casamento do soberano com Herodias (sobrinha e cunhada). Esta usou a filha, a adolescente Salomé, para seduzir e convencer o rei de que o Batista tinha que ser decapitado. Desencarnado, reapareceria algum tempo depois se transfigurando em Moisés e Elias no Monte Tabor (Mateus 17:1-13).


Decapitação de São João Batista (1869), de Pierre-Cécile Puvis de Chavannes.


Igreja de São João Batista em al-Eizariya (antiga Betânia, a 2 Km ao Leste de Jerusalém). Erguida, na Idade Média, próxima ao rio Jordão por cristãos ortodoxos, é um dos primeiros templos dedicados ao santo.


SÃO PEDRO, O "PORTEIRO" ou "CHAVEIRO"



Simão Pedro era natural de Cafarnaum, talvez nascido por volta de 10 a.C. Irmão do também apóstolo André e ex-pescador judeu do Mar da Galileia (Lago Tiberíades ou de Genesaré). Por isso que Jesus disse-lhe: Não temas; doravante serás pescador de homens (Lucas 5:10-11). Um dos principais discípulos do Cristo e considerado o primeiro líder da Igreja Cristã.
Seu nome era Simão (do aramaico e hebraico Šimʻōn, que significa "o Senhor está ouvindo"), mas Jesus o chamava de Cefas ou Pedro (em aramaico Kêfâ, em latim Petrus) porque seria a “pedra fundamental” da Igreja (Comunidade Cristã) (Mateus 16:18).
A lógica nos diz que Jesus não se referia à pessoa física Pedro, mas à FÉ do apóstolo (petram e não Petrum, demonstrando que houve um erro, intencional ou não, na tradução do grego para o latim). Portanto, Jesus teria dito: ... tu és Pedro, e sobre esta FÉ edificarei a minha igreja... Este pensamento era defendido por alguns dos principais doutores da Igreja, como Agostinho de Hipona.
No início, foi um homem de fé vacilante (por exemplo em Mateus 14:31) e impulsivo (ver João 18:10). Depois, se tornou um grande pregador da Boa Nova junto com Paulo de Tarso. Curou enfermos e obsediados, ajudou os mais necessitados. Escreveu cartas instruindo os novos cristãos.
Logo após a crucificação de Jesus, Pedro organizou os fiéis primeiramente em Jerusalém. Baseado nos ensinamentos do Mestre, passou a ser um dos principais encabeçadores da religião recém-nascida. Por isso, os católicos o consideram o Primeiro Papa ou Pai da Igreja.
A palavra "igreja" é um termo originado do grego ekklēsia: assembleia, definição utilizada pela primeira vez na antiga democracia ateniense. Eis a indicação de certas influências do pensamento grego nas raízes do cristianismo à época das pregações paulinas entre os gentios helenos. As assembleia ou reuniões entre os primeiros cristãos por extenção eram as primeiras comunidades ou igrejas.
A palavra "episcopado" é de origem grega (epi + skopeo: ver de cima), a qual podemos traduzi-la por "encargo", "cargo" ou "ofício". Alguns traduzem por "bispado", mas o significado mais preciso seria "supervisor". Esse "encargo" também pode ser traduzido por "ministério".
A palavra grega diakonias gerou o atual vocábulo "diácono", ou seja, alguém que realiza uma missão especial. O verbo dioko quer dizer "perseguir". Neste caso, pois, diácono é alguém que persegue ou segue algum serviço em particular e muito importante. Do termo, surgiu a "diocese": território em que um bispo exerce jurisdição (arquidiocese ou patriarcado).
Portanto, os chamados "Pais da Igreja", do século I ao III, a exemplo de Pedro, eram apenas supervisores, coordenadores, administradores ou diretores das comunidades; longe estavam dos cargos de chefia atuais de papas ou bispos (como mais tarde lhes foram atribuídos pela Igreja Romana).
Diz a lenda, que no fim da vida, quando pregava em Roma, tentou fugir da perseguição de Nero. Jesus, em Espírito, lhe apareceu na estrada. Pedro perguntou: "aonde vais, Senhor?" (em latim, Dominie, quo vadis?), o Mestre respondeu que iria à Roma para pregar no lugar dele mesmo que isso significasse ser crucificado de novo. Pedro, então, retornou e desencarnou na cruz, pouco tempo depois, por volta do ano 64 ou 68.

Crucificação de São Pedro (1600), de Caravaggio.

Segundo a tradição, apócrifa, Pedro pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, pois não se achava digno de morrer igual ao Cristo. O suposto túmulo de Pedro (inacessível ao público comum) se encontra na Basílica que leva seu nome, no Vaticano (no subsolo do enorme baldaquino central), junto aos restos mortais de outros papas. Vaticano era o nome de uma das colinas de Roma, onde, no topo, foi erguida a cruz na qual morreu o apóstolo e ex-pescador.


 Basílica de São Pedro.

O baldaquino está sobre as escadas que levam às criptas papais.

Entrada da sepultura de Pedro (protegida por uma porta de vidro).

Sepultura (foto em close).


ENTÃO... COMO SURGIU A FESTA DE SÃO JOÃO?
MISTURANDO, É CLARO!

Não há nenhuma referência nos Evangelhos afirmando que João Batista era amante de folganças ou folguedos populares, a fim de receber a alcunha de folgazão ou folgador ou até mesmo de festeiro e folião. Novamente é um atributo de fonte folclórica.

O dia do santo, na Igreja Católica Romana, é 24 de junho, próximo ao solstício de verão no Hemisfério Norte: por volta de 21 de junho. Nessa época, em locais de altas latitudes (mais próximos do Ártico), os dias do auge do verão produzem as "noites claras", quando o céu noturno não escurece totalmente. Nessas ocasiões existem agitados festejos que por vezes lembram o carnaval.


VERÃO FESTIVO EGÍPCIO DURANTE A CHEIA DO NILO

Os antigos sacerdotes egípcios conheciam os períodos dos níveis mais altos e baixos das águas do Nilo através dos "mistérios dos deuses", que na verdade eram medições (precursoras dos métodos científicos) feitas em escavações próximas às margens. Durante as cheias, ocorriam festividades estiais com oferendas para "satisfazer os deuses" até que eles abaixassem as águas permitindo, assim, o período da semeadura.

Segundo Heródoto, "o Nilo enche durante cem dias, a partir do solstício de verão [por volta de 21 de junho a 30 de setembro] e, passado esse número de dias, regressa ao seu leito e baixa o nível da sua corrente, de maneira que, durante todo o inverno, permanece baixo até ao novo solstício de verão". A cheia devia-se, sobretudo, ao aumento do caudal do Nilo Azul [no nordeste da África] que, no verão, passava de 200 para 10.000 metros cúbicos por segundo, devido às chuvas tropicais que caíam na nascente. A cheia atingia a primeira catarata em junho e o Delta em julho, inundando as terras mais próximas em setembro, época em que as águas começavam a retirar-se. Durante o mês de novembro, as terras fertilizadas pelo limo do rio eram semeadas e, em março, estavam prontas para as colheitas. Até que, de novo, regularmente, começava outro ciclo, do qual dependia a vida e a riqueza do Antigo Egito. Era tão importante para os egípcios que inventaram "nilômetros", instalações que lhes permitiam medir a cheia do Nilo e prever um inundação exagerada ou insuficiente.


A data de São João foi fixada pelos cristãos, a fim de fazer frente aos festins pagãos, sobretudo na Europa, durante a Antiguidade e Alta Idade Média (assim como o Natal no solstício de inverno). Eis o exemplo das festividades dos druidas:

Beltaine, festival comemorado em 1º de maio, [...] significando "fogo de bel" ou "belo fogo", o tempo dos amantes, com o acendimento de duas fogueiras gêmeas por onde passava o gado após o confinamento do inverno. Costume das festas juninas no Brasil e tradição em muitos países, é dos druidas a "simpatia" de se pular fogueira fazendo um pedido.

O solstício de verão é a época de Alban Heruin, a Luz do Litoral, a 21 ou 22 de junho, quando a luz [do sol] está no máximo e o dia é o mais longo do ano.


[MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Allan Kardec: o druida reencarnado. São Paulo: Eldorado, 2ª ed., out. 1996, p. 54, com adição]



AS FESTAS DO PAGÃO AO SÃO JOÃO CRISTÃO


A NOITE DE SANTA VALBURGA
O festejo anterior a junho, entre 30 de abril e 1º de maio.

Walpurgisnacht (em alemão) ou Walpurgis Night (em inglês) é o nome de uma festa folclórica ocorrida na véspera do Dia de Santa Walpurga ou Valburga, 30 de abril. A abadesa germânica, que viveu por volta de 710 a 779, foi canonizada em 1º de maio de 870. Valburga era sobrinha de São Bonifácio, o grande missionário que converteu muitos povos germânicos, a quem auxiliava na evangelização. Graças aos seus textos religiosos é considerada por alguns a primeira mulher escritora na Inglaterra e Alemanha. No século IX, cerca de 100 anos após seu falecimento, o Papa Adriano II canonizou Valburga pelos milagres atribuídos e a grande veneração popular à ela.


Uma imagem de Santa Valburga ou Walpurga, uma das mulheres exemplares do cristianismo que "substituiu" as sacerdotisas pagãs do equinócio de primavera e solstício de verão no Hemisfério Norte.

A data dedicada à santa, o primeiro dia do mês de maio, foi propícia para contrapor ao sentido pagão dado aos diversos festivais primaveris no Hemisfério Norte. No período pré-cristão, nesse dia do ano, havia a Floralia, festim dedicado a deusa Flora, sobretudo durante a Antiga República de Roma, para celebrar a primavera. Havia também o Beltane, festival gaélico-celta, ainda comum principalmente na Irlanda e Escócia, também dedicado à estação das flores.

O Hexennacht, que em alemão significa "Noite das bruxas", é outro nome dado ao Walpurgisnacht. O folclore alemão afirma que sacerdotisas pagãs, chamadas negativamente de bruxas ou feiticeiras pela Igreja medieval, costumavam se encontrar nessa época do ano em Bocken ou Blocksgerg, nome do pico das Montanhas Harz, localizadas na região central da Alemanha, entre os rios Weser e Elba. Em 1º de maio, as bruxas celebravam no local o auge da primavera (Goethe cita o festim na tragédia "Fausto, parte I", de 1808; assim como Thomas Mann no romance "A montanha mágica", de 1924). Não por acaso a Igreja dedicou o dia à Santa Valburga e todo o mês de maio à Virgem Maria, mulheres cristãs sagradas que substituíram as feiticeiras no seio do povo.

A "Walpurgis Night" é celebrada na noite entre 30 de abril e 1º de maio. Geralmente ocorrem danças, músicas, consumo de comidas e bebidas e a queima de grandes fogueiras ao ar livre (algo que lembra a nossa Festa de São João). É mais popular na República Tcheca, Estônia, Finlândia, Alemanha, Suécia, Países Baixos, Lituânia e Letônia.

Jovens mulheres representando um ritual pagão no solstício de verão na Rússia.

O Solstício de Verão no Hemisfério Norte, e por extensão seus festivais folclóricos, por vezes são chamados de Litha, que corresponde a junho e julho, referência aos nomes anglo-saxões dados aos meses descritos na obra, de 725, "De temporum ratione" (A contagem do tempo, em latim), de autoria do monge inglês São Beda (o mesmo que teria dado nomes aos Três Magos do Oriente). O período do solstício estival compreende de 19 a 24 de junho, os dias mais importantes para os festins são três: 21, 24 e 25.

Na Roma antiga, o mais longo dia do ano não era comemorado no dia 21 mas em 24 de junho. Havia festividades no dia 20 dedicadas ao deus Summanus, divindade dos raios e trovões noturnos (um contraponto de Júpiter, deus dos relâmpagos e trovões diurnos). As tempestades elétricas são mais comuns na estação mais quente do ano, e o nome desse deus pode ter influenciado a denominação anglo-saxã do verão: "summer".





Imagens do Stonehenge: uma estrutura composta (vestígios antigos) formada por enormes pedras ou monolitos, que podem chegar a nove metros de altura e pesar várias toneladas, erguida entre 3000 e 2000 a.C. no sul da Inglaterra. Acredita-se que esse sítio arqueológico, além de sediar ritos religiosos, servia de calendário lunar e solar, marcando, por exemplo, a exata incidência anual do primeiro raio de sol dos solstícios de verão e inverno em um monolito no centro do círculo (como demonstra o desenho logo acima, simulação de como era o Stonehenge original). Tais eventos anuais ainda são acompanhados por diversos espectadores.

A Bíblia afirma, em Lucas 1: 26 e 36, que São João Batista nasceu seis meses antes de Cristo, embora não afirme o dia exato. Como Jesus, para a maioria dos cristãos tradicionais, nasceu dia 25 de dezembro, o Batista teria nascido dia 24 de junho.

O solstício de verão sempre foi visto como um momento especial no ciclo anual desde os tempos neolíticos. Diversos povos acendiam fogueiras para se protegerem de maus espíritos, que estariam andando soltos enquanto o sol estava no Hemisfério Sul, já que a luz afastava-os.

No século XII, Santo Elói ou Elígio prevenia os cristãos recém-convertidos contra o "solestitia" (ritos pagãos do solstício de verão). O cristianismo adentrava as áreas pagãs e miscigenava as tradições cristãs com os festins pagãos do solstício. Em Colônia (Alemanha), por exemplo, no Dia de São João havia rituais medievais que tentavam aplacar as destrutivas cheias anuais do rio Reno. Em Portugal, fiéis cristãos, além de pularem a fogueira, andam de pés descalços sobre as brasas como prova de fé ou para pagar uma promessa (esse costume chegou ao Brasil através dos colonizadores lusitanos).

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Midsummer

Logo, a memória de João Batista, entre os populares, também recebeu características de outros deuses pagãos brincalhões ligados às estações da primavera e verão, a exemplo de Dionísio, Pã e Loki (deus escandinavo do fogo).



Pula a fogueira Iaiá,
pula a fogueira Ioiô.
Cuidado para não se queimar.
Olha que a fogueira 
já queimou o meu amor.

Nessa noite de festança
todos caem na dança
alegrando o coração;
foquetes, cantos e troça
na cidade e na roça
em louvor a São João.

Nessa noite de folguedo
todos brincam sem medo
a soltar seu pistolão;
morena flor do sertão
quero saber se tu és
dona do meu coração.

("Pula a Fogueira", autoria de Amor e 
J. Bastos Filho, 1936, na voz de Francisco Alves).


Portanto, a fogueira junina é uma adaptação do fogo aceso em tais rituais pagãos.

Eis o respaldo apócrifo dos cristãos: reza a lenda que Isabel, mãe de João Batista, dito o "Arauto ou Precursor do Cristo", mandou acender uma fogueira no alto de um monte, em volta de um mastro com bandeira branca (costume ainda visto em festejos juninos de diversos locais, como em Portugal) para anunciar o nascimento do filho à prima, a Virgem Maria, que morava próximo.


Afonso Arinos em Lendas e tradições brasileiras, refere-se que a lenda de São João remonta a um período anterior ao cristianismo, "nos cultos orgíacos da Ásia e da África antigas". A mais popular entre o povo é a que se refere à uma figura infantil e deificada.

Todos os anos na data junina, a crença popular vê São João no Céu em forma de menino deitado no colo da mãe que o embala. O santo festeiro sempre pergunta-lhe o dia do próprio nascimento. Santa Isabel, porém, manda que ele durma. E o santo dorme na sua noite festiva (24 de junho), porque se soubesse a data do seu dia desceria do Céu à Terra para festejar junto com o povo. Acontece que, sendo um santo poderoso, o mundo correria risco de ser queimado feito uma enorme fogueira.

Contam outros que se São João estivesse acordado durante a festa que lhe é tão ruidosamente dedicada (na qual usa-se até rojões barulhentos), vendo o clarão das fogueiras acesas à noite em seu louvor, não resistiria o desejo de descer para acompanhar os festejos. Por isso uns desejam que ele continue dormindo (para evitar que o mundo se acabe num fogaréu), mas outros querem que ele desperte.

Há tempos existem diversas canções dedicadas às lendas joaninas, como nos versos São João está dormindo / Não acorda não! / Acordai, acordai, acordai, João! (trecho de Capelinha de Melão, motivo popular).

Devido ao sincretismo, nos segmentos religiosos afro-brasileiros, São João Batista, além de São Pedro, por vezes é relacionado ao orixá Xangô pelas características particulares: divindade ligada aos raios, trovões e ao fogo ou fogueira.

Chegou a hora da fogueira / É noite de São João
O céu fica todo iluminado / Fica o céu todo estrelado
Pintadinho de balão / 
Pensando na cabocla a noite inteira
Também fica uma fogueira / Dentro do meu coração

Quando eu era pequenino / De pé no chão
Eu cortava papel fino / Pra fazer balão
E o balão ia subindo / Para o azul da imensidão

Hoje em dia o meu destino / Não vive em paz
O balão de papel fino / Já não sobe mais
O balão da ilusão / Levou pedra e foi ao chão

("Chegou a hora da Fogueira", autoria de Lamartine Babo, 
1933, nas vozes de Carmen Miranda, Mário Reis e Diabos do Céu).





A alcunha de Pedro como Porteiro ou Chaveiro do Céu veio da interpretação literal dada às palavras de Jesus: E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que abrires na terra será aberto nos céus, e tudo o que trancares na terra será trancado nos céus (Mateus 16:19 e 18:18).

Porém, Jesus não se referia apenas a Pedro (que estava junto aos demais apóstolos no momento), mas a toda pessoa que divulga o Bem em palavras e atos exemplares, e assim auxilia a si mesmo e o próximo a "adentrar no Reino do Céus". O contrário a essa norma também é observado (a tranca na terra e no céu). Eis as chaves dos Portões do Paraíso.

Sobre isso, parece-nos mais plausível uma simples explicação dada pela Revelação Espírita: Sede bons e caridosos, essa é a chave dos céus que tendes em vossas mãos. Toda a felicidade eterna se encerra nestas palavras: "Amai-vos um aos outros." A alma só pode elevar-se nas regiões espirituais pelo devotamento ao próximo... (mensagem do Espírito São Vicente de Paulo, Paris, 1858, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Rio de Janeiro: CELD, Cap. XIII, §12, 2001, p.231).

Se ele abre e fecha as portas e janelas do céu, então é a ele que pediremos para fazer chover ou cessar as inundações, diz o teólogo Afonso Soares, professor da PUC-SP. Por conseguinte, a crendice popular também atribuiu a Pedro poderes climáticos.

Dentro do "atavismo espiritual" dos povos, o apóstolo cristão substituiu, portanto, divindades pagãs, como Taranis: deus celta do trovão cultuado em regiões da França, Irlanda, Grã-Bretanha, Alemanha e outras. Antigas esculturas de Taranis apresentam semelhanças físicas com representações cristãs de Pedro, como a barba, assim como as de outras divindades, como o ciclope Brontes (dos gregos), Júpiter e Marte (dos romanos) e Thor (dos escandinavos).

No candomblé e umbanda brasileiros, São Pedro corresponde a Xangô: orixá das trovoadas, chuvas e tempestades.

Antiga estátua de Taranis. Nota-se que há semelhanças físicas, como a barba, frente às representações de outras divindades como o ciclope Brontes (dos gregos), Júpiter e Marte (dos romanos), Thor (dos escandinavos)... e São Pedro (dos cristãos).


Por ser considerado o primeiro chefe da Igreja, Pedro, com o perdão do trocadilho, foi o "manda-chuva" do cristianismo (afirmou Artur Louback Lopes).

Comemora-se o dia de São Pedro em 29 de junho, data em que também se encerram os festejos juninos. No Brasil, devido a antiga profissão do santo, procissões de barcos de pescadores são realizadas em diversas cidades litorâneas como Niterói-RJ, Paraty-RJ, Angra dos Reis-RJ, Ubatuba-SP e Vitória-ES.


Procissão de barcos com a imagem de São Pedro no Espírito Santo.

CONCLUSÃO


Santo Antônio de Lisboa
Era um grande pregador,  
Mas é por ser Santo Antônio
Que as moças lhe têm amor.

No dia de Santo Antônio
Todos riem sem razão.
Em São João e São Pedro
Como é que todos rirão?

No dia de S. João
Há fogueiras e folias.
Gozam uns e outros não,
Tal qual como os outros dias.


[Três quadras de Quadras ao gosto popular, de 1933, 1a ed. 1965, de Fernando Pessoa]

Portanto, meus amigos, vamos comemorar os festejos juninos sem esquecer dos três homenageados: Antônio, João Batista e Pedro. Três pessoas simples que se sacrificaram pela real causa cristã, fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem conosco. Eles que enfrentaram tiranos cruéis em suas épocas (Ecelino, Herodes Antipas e Nero) e não recuaram, pois sabiam que estavam fazendo o correto.

Evitar os perigos do álcool em excesso, das bombas e balões nos concentrando num divertimento sadio, e colaborar com festas voltadas para causas sociais (em prol de algum orfanato, creche, hospital, asilo etc.) são as melhores homenagens aos Três Santos Juninos.

***

OUTROS ELEMENTOS JUNINOS NO BRASIL


Alguns cronistas contam que os jesuítas, durante a colonização portuguesa, acendiam fogueiras e tochas despertando assim a curiosidade dos indígenas, na época das festas juninas.


O início da estação do inverno no Brasil (em junho) coincidia com a realização dos rituais mais importantes para os nativos brasileiros. De junho a setembro, ocorre a seca em muitas regiões do Brasil, quando os rios estão baixos e o solo está pronto para o plantio.

Neste período, os roçados velhos, do ano anterior, ainda estão em pleno vigor, repletos de mandioca, cará, inhame, batata-doce, banana nativa, abacaxi ou ananás, jerimum ou abóbora etc. Ocorre também a colheita de milho, feijão (trazido pelos colonizadores) e amendoim. O tempo também favorece a caça e pesca.



O final do inverno, em agosto, era o início de uma das épocas de fartura para os tupinambás e outros nativos brasileiros do litoral nordeste e sudeste do Brasil. Há séculos diversas espécies de peixes do mar, a exemplo da tainha e do parati, sobem os rios ou entram em lagos e lagoas em direção aos manguezais, onde desovam. Os indígenas, que chamavam o fenômeno natural, que durava até o mês de outubro, na primavera, de "piraîké" ou "piraquê" (que literalmente em tupi significa "peixe que entra"), aguardavam os peixes nas fozes e trechos de cursos de água estreitos e rasos para pescá-los em grande quantidade. A carne seca do pescado era misturada com farinha de mandioca e servia de ração para longas viagens de guerra contra outras tribos e demais inimigos. O período era festejado por dias - com músicas, comidas, bebida (cauim) e danças ao redor de fogueiras - nas inumeráveis tabas que existiam antes de desaparecerem com a chegada dos portugueses colonizadores.

As festas congregavam as comunidades em danças, cantos, rezas e fartura de alimentos. Serviam para agradecer a abundância e reforçar os laços de parentescos, ótima ocasião para os matrimônios (olha o casamento na roça!). Essa tradição festiva é um belo exemplo de sincretismo cultural brasileiro.

[Fontes: O mensageiro de Santo Antônio, revista de junho-2005, e O Rio antes do Rio, de Rafael Freitas da Silva, Babilonia Cultural Editorial, 1ª ed. 2015]

Após a vinda da pólvora à Europa, trazida da China pela primeira vez no século XIII, os fogos de artifício foram inseridos nos folguedos, e assim também apareceram os traques, chilenes, cordões, cabeções de negro, cartuchos, treme-terras, rojões, buscapés, cobrinhas, espadas de fogo etc.


Espada de fogo no Nordeste do Brasil.

Da China, inventado no século III para fins militares, também vieram os balões de papel de seda. Chamados também de lanternas celestes ou kongming. São também usados em festividades no Oriente.

Em alguns lugares os balões não possuem bucha (com fogo) e mantém-se eles presos ao solo. No Brasil, a soltura de balões juninos é proibida por lei devido ao risco de causar incêndios.

Cai cai balão, cai cai balão 
Na rua do sabão 
Não Cai não, não cai não, não cai não 
Cai aqui na minha mão! 

Cai cai balão, cai cai balão 
Aqui na minha mão 
Não vou lá, não vou lá, não vou lá 
Tenho medo de apanhar!

("Cai, cai Balão", a letra, como muitos motivos populares, possui mais de uma versão): Para ouvirhttps://www.youtube.com/watch?v=nbBgywvAF2A


No século XIX, no lugar de "Cai, cai balão" cantava-se "Vem cá, Bitú".

Por volta de 1811, na Corte do Rio de Janeiro, vivia um ébrio, branco, talvez português, muito conhecido pelos populares chamado Vitorino, alcunhado Vitu ou Bitu, conforme o sotaque lusitano que troca o "b" pelo "v" ou vice-versa. Residia e perambulava pelo Castelo, no sopé do morro, pelas bandas da extinta Praia de Santa Luzia (hoje aterrada, pelo desmonte do Castelo, e que se tornou rua) ou ao redor da Santa Casa de Misericórdia.

Assim como outros personagens da cidade, logo o nome "Bitu" tornou-se uma canção na boca do povo, neste caso, um acalanto ou canção de ninar, de mesma natureza do "boi da cara preta".

Vem cá, Bitu. Vem cá, Bitu
Na rua do Sabão
Não vou lá, não vou lá, não vou lá
Tenho medo de apanhá...


No Brasil, a referência mais antiga dessa canção, de origem portuguesa, é a de Alexina de Magalhães Pinto, em seu livro "Cantigas das crianças e do povo", editado em 1911. A pesquisa de Alexina de Magalhães serviu, inclusive, de base para a obra de Villa-Lobos.

A atual rua dos Andradas (no Centro do Rio) era a antiga rua do Sabão, local de festas populares no século XIX. Os mais jovens adaptaram a melodia do motivo popular para uma canção que fala sobre os balões juninos (para rimar "sabão" com "balão", tiraram o "Bitú").

Segundo outras fontes, a Rua do Sabão existia, no início do século XX, no Rio de Janeiro, recebendo posteriormente o nome de Rua General Câmara, Localizava-se  entre a Igreja da Candelária e a Central do Brasil no lado ímpar. Começava na Visconde de Itaboraí e terminava na Praça da República. As reformas urbanísticas, como a abertura da Avenida Presidente Vargas na década de 1940, fez desaparecer a Gal. Câmara.

Fonte: Garcia, Walter. Melancolias, mercadorias. Cotia-SP: Ateliê Editorial, 2013.

O compositor paulista Alexandre Levy (1864-1892) utilizou essa melodia em Variações Sobre um Tema Brasileiro (1887). Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=Nl8x2NJY0Sk

Em 1937, a cantora Neide Martins lançou pela Odeon o samba "Vem cá, Bitu", de Saint Clair Sena, com acompanhamento da orquestra Odeon. Sena inseriu em sua composição original o famoso motivo popular (talvez uma referência às músicas de sua infância, cantiga de roda). 
Para ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=FPyJU-UVGeE

http://jornalggn.com.br/blog/lucianohortencio/vem-ca-bitu-vem-ca-bitu-vem-ca-bitu-vem-ca

https://rioantigo-imagensehistorias.blogspot.com.br/2014/08/rua-general-camara-1920.html


https://rioantigo-imagensehistorias.blogspot.com.br/2013/11/rua-general-camara-1906.html

***

E o balão vai subindo
Vem caindo a garoa
O céu é tão lindo
E a noite é tão boa
São João, São João
Acende a fogueira
No meu coração


Sonho de papel
A girar na imensidão
Soltei em teu louvor
Um sonho multicor
Oh meu São João


Meu balão azul
Foi subindo devagar
E o vento que soprou
Meu sonho carregou
Não vai mais voltar


("Sonho de Papel", autoria de Alberto Ribeiro, 
1935, na voz de Carmen Miranda).


Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=gTDjb8-kXmA

Balões chineses

Noite fria, tão fria de junho
Os balões para o céu vão subindo
Entre as nuvens aos poucos sumindo
Envoltos num tênue véu

Os balões devem ser com certeza
As estrelas daqui deste mundo
E as estrelas do espaço profundo
São os balões lá do céu

Balão do meu sonho dourado
Subiste enfeitado
Cheinho de luz
Depois as crianças tascaram,
Rasgaram teu bojo
De listas azuis

E tu que, invejando as estrelas,
Sonhava ao vê-las
Ser astro no céu
Hoje balão apagado
Acabas rasgado 
Em trapos ao léu

"Noites de Junho", de 1939, de Alberto Ribeiro e João de Barro, gravado na voz de Dalva de Oliveira e flauta de Benedito Lacerda.


Outro símbolo junino é o pau de sebo, no qual os foliões devem tentar subir em um poste feito de um tronco de árvore, untado de sebo, graxa ou outro produto escorregadio, para pegar três bandeirinhas (representando os santos juninos Antônio, João e Pedro) ou demais prendas. 

O costume veio de Portugal, onde se comemora o Levantamento do Mastro, quando um tronco alto é erguido do chão por pessoas e enfeitado com fitas coloridas, milho, laranjas e, em muitas vezes, o retrato de São João Batista menino no topo. Nota-se o sincretismo de culturas pagãs e cristãs nessas festas folclóricas, que fazem referência ao pedido por melhores colheitas às divindades.


Herdaram-se festejos de antigos povos não cristãos envolvendo troncos de árvores nessa época do ano. Ainda há na Escandinávia a festa do Majstången (Mastro de Maio), em maio, e do Midsommarafton (Festival de Verão), em junho.




Um pau de sebo no Brasil e a Festa do Mastro do Verão, na Suécia.


"CAPELINHA DE MELÃO" NÃO É UM TEMPLO PEQUENO FEITO COM O FRUTO DO MELOEIRO

Capelinha de Melão 
é de São João 
É de Cravo é de Rosa 
é de Manjericão;


São João está dormindo
Não acorda [me ouve] não! 
Acordai, acordai, 
acordai, João!


("Capelinha de Melão", motivo popular)

Para ouvirhttp://www.youtube.com/watch?v=VT0UnDZwR4I


Um dos primeiros arranjos e gravações sobre este motivo popular foi produzido pela compositora e educadora Amélia Brandão Nery ou Tia Amélia, em 1930, através da voz de Elisa Coelho.


Em 1949, João de Barro e Alberto Ribeiro compuseram uma canção junina homônima, também sobre o mesmo motivo popular, na voz de Emilinha Borba.



***
A palavra "capela", além de pequeno templo cristão, designa "povoação" e também "reunião de foliões durante o São João". Então, "capelinha" é um folguedo junino em um pequeno povoado.

Mas por que "de melão"? Ora, "capela" também é, sobretudo em Portugal, "coroa de flores ou folhas" (e como a canção diz, podem ser de cravo, rosa ou manjericão). Portanto, trata-se de uma pequena coroa das flores e folhas do meloeiro (no caso, do melão de são caetano), que eram usadas como ornamento ou adereço nesses folguedos.


Flores do melão de são caetano ou melãozinho. 
Nome comum a arbustos do gênero Momordica. De origem asiática, foi trazida da África ao Brasil pelos escravos. Muito comum em cercas e entulhos de terrenos abandonados. Seu fruto, de espinhos moles, quando maduro tem cor amarelo ouro e mostra sementes vermelhas comestíveis apreciado pelas crianças. As folhas eram usadas pelas lavadeiras para clarear a roupa. Os escravos usavam o chá em banhos para facilitar o parto e para baixar febres. Seu nome foi dado pelos negros mineiros do século XVIII, que o plantavam ao redor de uma capelinha em Mariana-MG. O padroeiro da capela era São Caetano.

Segundo um artigo do site Revista do Meio Ambiente, sobre o melão-de-santo-caetano, O suco do vegetal, na concentração de 5% em água mostrou ter um potencial assombroso de lutar contra o crescimento dos quatro tipos de cânceres pancreáticos pesquisados, dois dos quais foram reduzidos em 90%, e os outros em incríveis 98% apenas 72 horas após o tratamento! 
http://www.revistadomeioambiente.org.br/saude-e-meio-ambiente/610-uma-planta-muito-simples-consegue-matar-ate-98-de-celulas-cancerigenas-e-tambem-frear-o-diabetes

Hoje a capelinha-de-melão é um pequeno auto do Rio Grande do Norte - criado por descendentes de escravos-, com cânticos pastoris e danças, realizado na noite de São João.

Acompanhado por orquestra de violão, rabeca e clarineta solista (atualmente incluem-se sanfona e pandeiro), um grupo de moças, em número par, exibe-se num tablado ao ar livre, com roupas e sapatos brancos, tendo à cabeça uma capelinha de flores de melão-de-são-caetano, em torno de um diadema enfeitado com papel crespo.

Cada dançarina possui uma tira larga de cetim (hoje substituído por papel crepom), vermelho ou azul, que, partindo do ombro esquerdo, termina por um grande laço na cintura direita. Estão elas divididas em duas alas, entre as quais caminha a Diana, figura clássica, com faixas azul e vermelha entrecruzadas no busto.

As participantes cantam e dançam, tendo à mão uma lanterninha com vela acesa e uma bandeirola com a efígie do santo. Depois que sobem ao palco-tablado, deixam as lanternas, mas continuam segurando as bandeirinhas.

O bailado tem de oito a dez partes, com coreografia e cantos próprios, terminando todas com o estribilho: “Capelinha de melão / é de São João, / é de cravo, é de rosa, / é de manjericão” — que também é canto dos foliões da capela.


No fim da última parte, duas dançarinas retiram o diadema da cabeça e, substituindo-o por panos enfeitados com moedinhas de papelão dourado ou canutilhos, assumem aspecto de ciganas (hoje substituídas por baianas): com uma bandeja na mão, percorrem a platéia masculina pedindo esmolas, ao som de um canto, respondido em coro pelas que permaneceram no tablado.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora


Igreja Matriz de São João Batista em Assú-RN.


O CAIPIRA E A VIDA NO CAMPO NO FOLCLORE BRASILEIRO

A partir do século XX, quando as populações urbanas ultrapassaram as das áreas rurais, as festas juninas passaram a dar atenção à vida pitoresca do homem do campo ou caipira. Eis as encenações, heranças de antigos autos religiosos ou folclóricos, do casamento na roça (forçado pelo pai da noiva, armado de espingarda) com as figuras mais tradicionais duma aldeia ou arraial (em "caipirês": arraiá): coronel ou coroné, delegado, padre, prefeito, juiz, comadres etc.

Um exemplo histórico-musical desse interesse pelo tema do campo foi a "revista musical" ou opereta A Corte na Roça (1885), composta pela maestrina Chiquinha Gonzaga (1847-1935), que levou aos palcos cariocas o "maxixe": música e dança popular que mistura a melodia expressiva do chorinho com a métrica sincopada e pulsante do lundu, e caiu no gosto do público junto com as antigas modinhas imperiais. Fonte: http://veja.abril.com.br/historia/republica/musica-maxixe-danca-moda.shtml

A jovem Maria Fausta está apaixonada por João do Carmo, mas seu padrinho, o Coronel Januário, já arranjou o casamento com o acordeonista Galdino. Tentando fugir do matrimônio, a garota encontra um esconderijo para partir com João do Carmo, mas o casal é logo descoberto por Galdino. Embora o casamento seja inevitável, na hora da cerimônia, Galdino desaparece, triste por descobrir que não é amado por Maria Fausta.

Esta é a sinopse do longa-metragem brasileiro "Canto da Saudade" (1952), do diretor mineiro Humberto Mauro (1897-1983). O filme é um exemplo que caracteriza bem os dramas tradicionais dos casórios na roça, que geralmente são encenados de forma cômica nas festas juninas. Mauro, um dos precursores do cinema brasileiro, ficou conhecido por ser um cineasta que valorizava o cenário do interior do país, sobretudo de Minas Gerais.


O maior nome do cinema nacional que valorizou o homem do campo foi Amácio Mazzaropi (1912-1981). Ele incorporou em si a figura do matuto ou caipira durante quase toda a vida profissional. Seus principais filmes que retratam a vida sertaneja, mesmo que modificada numa ficção própria, foram "Candinho" (1953), "Jeca Tatu" (1959), "As Aventuras de Pedro Malasartes" (1960), "Tristeza do Jeca" (1961), "Casinha Pequenina" (1963), "O Lamparina" (1964), "O Jeca e a Freira" (1967), "Uma Pistola para Djeca" (1969), "O grande Xerife (1972) e "O Jeca e a Égua milagrosa" (1980).


Outra grande divulgadora da cultura sertaneja foi a paulista Inezita Barroso (1925-2015): cantora, compositora, atriz, professora, folclorista, apresentadora de rádio e tv e pesquisadora da música popular caipira (apesar de ter nascido e sido criada na cidade grande).

A "Moda da Pinga ou Marvada Pinga" (1953), de Cunha Jr., foi talvez seu maior sucesso:
https://www.youtube.com/watch?v=x0aevIBTMi8


A DANÇA DE QUADRILHA

A dança de quadrilha veio da Europa. Consta de diversas evoluções em pares e é aberta pelo noivo e pela noiva, pois representa o grande baile do casamento que hipoteticamente se realizou. Esse tipo de dança não era exclusivamente realizada na época das festas juninas.

O Baile (1607), de Hieronymus Francken, o Jovem.

Baile (c.1900), de Victor Gabriel Gilbert.

A quadrilha surgiu tanto de antigas danças e músicas de corte (saltarello, alemanda, galliard, la volta, sarabanda, bourrée, chacona, gavota, giga, minueto, passacaglia, rigaudon, hornpipe, polca, schottische, valsa, mazurca etc.), quanto de ritmos populares do campo e das cidades.

Como as coreografias eram indicadas em francês, o povo repetindo certas palavras ou frases levou também à folclorização das marcações aportuguesadas do francês, o que deu origem ao "matutês", mistura do linguajar matuto com o francês, que caracteriza a maioria dos passos da quadrilha junina: anavantur (avant tout: todos para frente) - anarriê (derrière: para trás) - balancê (balancer: balançar) - travessê (travesser: atravessar) - granmuliné (grand mouliner: movimentar-se como um grande moinho) - otrefoá (autrefois: posição anterior), retournê (retourner: retornar), retirê (retirer: retirar-se), changê (changer: trocar), galopê (galoper: galopar) etc.
Junto com essas palavras, criou-se outros movimentos e termos, como "olha a chuva!" ou "olha a cobra!" (e depois, "é mentira!"), "olha o túnel!", "fazer o serrote", "preparar o carracol" etc.

Originária de velhas danças populares de áreas rurais da França (Normandia) e da Inglaterra. A dita quadrille surgiu em Paris, no século XVIII, tendo como origem a contredanse française (contradança francesa), que por sua vez é uma adaptação das country dance (dança camponesa) holandesa e alemã, segundo os estudos de Maria Amália Giffoni. Logo também baseou-se algumas danças sociais como o cotillion.


Detalhe de Dança de Aldeões Italianos (c.1636), de Rubens.
Antes mesmo da quadrilha ser inventada, as classes altas sempre adaptaram diversas danças folclóricas de populares aos seus salões e vice versa.

Foi introduzida no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, por volta de 1820, por membros da elite. Durante o Império, a quadrilha era a dança preferida para abrir os bailes da Corte. 


Depois popularizou-se saindo dos salões palacianos para as ruas, praças e clubes populares, com o povo assimilando a sua coreografia aristocrática e dando-lhe novas características e nomes regionais; a exemplo dos escravos, que misturavam sua dança a dos senhores. 


Adicionaram-se ritmos de raízes africanas e nativas como o jongo, lundu, fandango, cateretê, maracatu, coco, maxixe, bumba-meu-boi, baião, forró etc.


Fonte: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar



Domingo de Festa na Fazenda (c.1920), de Hans Nöbauer.
Ele chegou com um século de atrasado se comparado aos artistas estrangeiros do séc. XIX. Nöbauer (1893-1971) foi um austríaco tão apaixonado pelo Brasil, que ficou por aqui. Estudando e seguindo o estilo das obras de Frans Post, Debret, Taunay, Ender, Rugendas e outros, Nobauer produziu a pintura acima que representa muito bem as danças e músicas afro-brasileiras que pertencem às raízes dos festejos folclóricos e populares do país.


O baile lá na roça
foi até o sol raiar;
a casa estava cheia,
Mal se podia andar.
Estava tão gostoso
aquele reboliço,
mas é que o sanfoneiro
só tocava isso...

De vez em quando alguém
vinha pedindo pra mudar;
o sanfoneiro ria
querendo agradar.
Diabo é que a sanfona
tinha qualquer enguiço,
mas é que o sanfoneiro
só tocava isso...

(O Sanfoneiro Só Tocava Isso. Polca de autoria de Haroldo Lobo & Geraldo Medeiros, 1950. Originalmente gravado na voz de Dircinha Batista).

Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=2_-TkoniIo0

MAIS DETALHES DA QUADRILHA:

A quadrilha é uma dança de salão européia originada no século 18 e muito popularizada no século 19, tendo se espalhado por toda a Europa e colônias. Quase todos os manuais de dança da época possuíam uma seção explicando os passos e a etiqueta da quadrilha. Sua formação coreográfica requer quatro casais dispostos na forma de um quadrado, que se revezam nos passos da dança. Um dos pares é o principal, que lidera os outros.

Musicalmente, a quadrilha é composta por cinco partes (ou movimentos) diferentes, como cinco pequenas músicas intercaladas, cada uma com começo, meio e fim. Os ritmos de cada parte também seguem determinadas regras: a primeira parte pode ser em 2/4 ou 6/8, a segunda sempre em 2/4, a terceira sempre em 6/8, e a quarta e quinta partes sempre em 2/4, sendo que todos os temas possuem a duração de 8 compassos. Naturalmente, a dança acompanhava cada um destes ritmos, fossem ternários ou binários.

A quadrilha eventualmente também se tornou um gênero popular na Belle Époque brasileira, presente na obra de diversos autores. Por exemplo, a coleção de 15 CDs “Princípios do Choro” (Acari Records, 2002), que fez um grande resgate de peças de compositores deste período, registrou 5 quadrilhas: de Saturnino, Luiz Borges de Araújo, Anacleto de Medeiros, Henrique Alves de Mesquita e Galdino Barreto, todas em cinco partes. Chiquinha Gonzaga também compôs duas quadrilhas (Arcádia e quadrilha de Jandyra), e o “pai do choro” Joaquim Callado compôs nada menos que 22 quadrilhas, trazendo grandes contribuições ao gênero. Curiosamente, existe pelo menos uma quadrilha contemporânea, composta nos moldes antigos: Um baile em Villa-Boa, de Maurício Carrilho, e Cavaquinho de ouro, de Gustavo Cândido.

Segundo a pesquisadora Cristina Magaldi, no livro Music in Imperial Rio de Janeiro: European Culture in a Tropical Milieu (Scarecrow Press, 2004), peças deste tipo eram escritas para consumo interno, para serem tocadas em encontros familiares e saraus, e para preencherem intervalos de peças teatrais. Essas obras serviam de entretenimento nos salões cariocas devido ao seu sotaque exótico europeu, e não exatamente como peças nacionalísticas com o objetivo de retratar uma linguagem musical distinta.


É interessante notar que, embora este gênero esteja hoje praticamente extinto em sua forma original, no Brasil ele evoluiu para a quadrilha de festas juninas, fenômeno rural que adquiriu grandes proporções principalmente no Nordeste, dançada com muitos pares comandados por um mestre “marcador”. Já nos EUA, a quadrilha seguiu um outro caminho evolutivo, culminando na popular square dance, nomeada a dança oficial em 19 estados.

Fonte: http://www.ernestonazareth150anos.com.br/Works/view/137


Para ouvir: Onze de Maio (c.1900), quadrilha de salão composta por Ernesto Nazareth e dedicada à “Exma. Sra. D. Maria José Amado de Meirelles”, esposa de um cunhado de Nazareth. O título provavelmente faz alusão ao aniversário da homenageada, ocasião festiva em que pode ter sido executada para ser dançada (piano, Alexandre Dias): http://www.youtube.com/watch?v=wupO7XYfDR4

Dança de quadrilha na quadra duma escola.

Os festejos brasileiros variam de acordo com o local. No Maranhão, em junho, comemora-se o "bumba meu boi", que faz referência às lendas dos vaqueiros da região.


Por lá, há gerações, dizem que São João possuía um boi belo e dançarino, que fazia bailar para alegria sua e dos convidados em suas festas de aniversário. São Pedro, desejando ter o boi para alegrar também seu aniversário, toma-o emprestado de João. São Marçal (Bispo Marçal ou Martial de Limoges, santo mártir francês do séc. III) ao vê-lo dançar para Pedro, decide levá-lo para sua própria festa (em 30 de junho) com a anuência do amigo, mas sem o conhecimento de João. Para desgraça geral, falta comida na festa de Marçal e seus convidados matam o boi para saciar a fome, sem saber de que animal se trata. São João fica inconsolável e os amigos tentam reanimá-lo com a oferta dos mais belos bois que ele, no entanto, recusa. De acordo com a lenda, a cada ano, no seu dia, repetem-se os presentes ao sempre insatisfeito João. E a cada ano, o povo  ou brinca um boi para o santo, tido como padrinho e padroeiro de todos os Bumbas.
(Fonte: COSTA, Carla. Fé e festa: bumba-meu-boi do Maranhão. Rio de Janeiro: Funarte, 2002, p. 18)

MAIS DETALHES SOBRE OS "BOIS":

Em cada parte do país, o boi tem um nome diferente: Boi-Bumbá, no Amazonas e no Pará; Bumba-meu-boi, no Maranhão; Boi Calemba, no Rio Grande do Norte; Cavalo-Marinho, na Paraíba; Bumba de reis ou Reis de boi, no Espírito Santo; Boi Pintadinho, no Rio de Janeiro; Boi de mamão, em Santa Catarina e boizinho no Rio Grande do Sul.

Pesquisadores acreditam que o festejo teve origem na cultura européia (espanhola e portuguesa), africana e indígena. Surgiu no Nordeste no século XVII, durante o Ciclo do Gado, quando o boi tinha grande importância simbólica e econômica. Na época, o animal era criado por colonizadores que faziam uso de mão de obra escrava. A lenda na qual se baseia o Bumba-meu-boi reflete bem essa organização social e econômica.

O festejo do Bumba-meu-boi surgiu nesse contexto de fazendas de criação de gado e reuniu influências africanas, como o boi geroa, trazidas pela população escrava e europeia, como a tourada espanhola, festas portuguesas e francesas. O boi de Parintins traz também forte influência indígena.

Em seu princípio, o Bumba-meu-boi sofreu grande repressão por ser uma festa de origem escrava. Ele foi perseguido pelas elites nordestinas e também pela polícia e chegou a ser proibido entre 1861 e 1868.

A encenação costuma ser feita nos meses de junho e julho, durante as festas juninas, mas também pode acontecer em outras épocas do ano. Reúnem vários estilos brasileiros (aboios, toadas, repente, canções pastoris e cantigas). São utilizados instrumentos de percussão e de cordas.

Acredita-se que o nome Bumba-meu-boi possa ter relação com a zabumba, um tambor utilizado nos festejos. O Bumba/Bumbar pode ter vindo da expressão “zabumba meu boi”. Porém, existe também o verbo bumbar, que significa bater com força. Assim, Bumba teria o sentido de uma exclamação como: Bate, meu boi! Bate Chifra, meu boi!

Se o festival de Parintins fosse em homenagem aos animais da região amazônica, sem dúvida, a festa coroaria a onça pintada ou a cobra sucuri e não um boi. Mas não foi por acaso que o Boi-Bumbá é o homenageado. Centenas de nordestinos saíram de sua terra para tentar a vida na extração da borracha da seringueira e consigo levaram a tradição do boi.

A história contada pelos "bois" possui variações, mas geralmente é sobre um casal de escravos ou empregados da fazenda, Pai Francisco e Mãe Catirina. Grávida, Catirina começa a ter desejos por língua de boi. Para atender suas vontades, seu marido, vaqueiro da fazenda, tem de matar o boi mais bonito de seu senhor. Percebendo a morte do animal, o dono da fazenda convoca curandeiros e pajés para ressuscitá-lo (há variações que afirmam que quem convocou a ajuda dos pajés foram os escravos ou demais empregados, para que Francisco e Catirina não fossem severamente punidos pelo senhor-fazendeiro). Quando o boi volta à vida, toda a comunidade celebra.

Há uma grande variação também nos nomes atribuídos aos personagens. O boi pode ser chamado de Mimoso, Barroso ou Estrela. O vaqueiro tem nomes como Pai Francisco, Mateus, Fidélis, Nego Chico, Sebastião, entre outros. Já o fazendeiro é conhecido por: Capitão Boca Mole, Senhor Branco, Capitão-do-Mato, Capitão-Marinho, Amo, Patrão, Coronel, Comandante, etc. Os personagens são negros (escravos ou livres), índios, mulatos e caboclos. Há o Burrinha: um cavalinho ou burrinho pequeno presente em alguns grupos de bumba-meu-boi. Sua fantasia tem um furo no centro, onde fica a pessoa com o animal pendurado em seus ombros por meio de uma estrutura que lembra um suspensório (lembram os cavaleiros picadores das touradas). Há o Cazumba: não está presente em todos os grupos de bumba. É um personagem divertido, mas que pode também ser assustador. Ele veste batas coloridas e usa máscara.

A representação conta com alegorias muito coloridas, sendo que a alegoria do boi é feita com uma armação de madeira coberta por tecidos bordados, na forma de um touro. O homem que fica dentro desta alegoria é chamado de "miolo do boi”. Os instrumentos tradicionais são o maracá, tamborinho, tambor-de-onça (lembra uma cuíca mas com som grave que imita o mugido do boi), zabumba ou bumbo, matraca, pandeirão e tambor de fogo.

A tradição no Norte e Nordeste é iniciar a festa do boi em frente à casa de quem convidou o grupo, que aliás é quem patrocina a festa, que às vezes encena o fazendeiro.

Fontes: 
http://bumba-meu-boi.info/
http://www.infoescola.com/folclore/bumba-meu-boi/

Para ouvir uma das famosas toadas do bumba-meu-boi maranhense, a do Boi do Maracanã (nome de uma agremiação de São Luiz-MA) que chegou a ser cantada pela cantora de samba Alcione, que é maranhense: https://www.youtube.com/watch?v=eGna25C6V3c

A mais famosa toada provavelmente é "O tempo certo" do grupo maranhense Casinha da Roça, um dos finalistas do Festival dos Festivais de 1985:https://www.youtube.com/watch?v=UeV9_91xG2o


Diante de tanto sincretismo e miscigenação, as comidas e bebidas típicas dessa época, de raiz européia (sobretudo portuguesa) e afro-brasileira, não fogem da regra. 


Exemplos: quentão (bebida quente com gengibre, pinga ou vinho tinto e canela), maçã do amor, salsichão, quindim, queijadinha, pamonha, bolo de tapioca, fubá, curau, canjica ou mugunzá, cuscuz, milho cozido ou assado, pé de moleque, amendoim torrado, paçoca, cocada, arroz doce, pipoca, pinhão, biscoito de polvilho etc.  



(Fonte com modificações: Wikipedia)



Fotos de Festas de São João minhas (é necessário fazer o seu login no Facebook):

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